Alguns Apontamentos
do séc. XVIII
Este artigo, dividido
em 3 partes, dedica contudo especial atenção ao século XVIII, período que
parece ter sido decisivo no desenvolvimento desta zona do concelho, pois é neste
período que se edifica a fonte monumental, os fortes depois reconvertidos em
quintas e armazéns para comércio de vinho, e as casas nobres de Olho de Boi e Arialva.
Façamos pois uma visita à história e origem destes
espaços.
As Obras da
Fonte da Pipa
É no reinado de D. João V, que se fazem as
principais obras na Fonte da Pipa, que incluíram os acessos à vila de Almada e
a actual Fonte Monumental de 4 Bicas, encimada pelo Brasão Real.
Existe aqui uma inscrição que diz:
Existe aqui uma inscrição que diz:
«A obra desta fonte e seu caminho, se fez por
ordem de sua magestade à custa do povo desta vila e seu termo, por tributo que
se lhes impôs nos açougues da dita vila e seu termo de três reis em cada
arratel de carne para pagamento da dita obra na era de 1736».
A data parece reportar à
conclusão dos trabalhos, pois esta obra fora arrematada com outras pelo mestre pedreiro
LUÍS DA SILVA em 1726, conforme se lê numa escritura a que tivemos acesso, e
que aqui resumimos:
1726 (10 de Agosto)
Lisboa Ocidental (junto à Igreja de N.ª Sr.ª da
Palma, nos escritórios do Tabelião)
Escritura de Instrumento de Sociedade e Obrigação
estando, de uma parte, Luís da Silva,
mestre pedreiro, morador na Rua Nova da Palmeira, freguesia de S. José, e
da outra parte, José Antunes, mestre pedreiro, morador na Rua Direita de S.
José, e Manuel Gonçalves, também mestre pedreiro, morador ao Tronco, freguesia
de S. Julião, e outrossim Francisco de Macedo, mestre carpinteiro, morador na
Rua da Fé, a S. José, em que o dito Luís
da Silva disse que ele tinha arrematado no tribunal da Mesa da Consciência
e Ordens a obra de umas casas no Castelo de Santa Maria de Almada e cujas são
para o Prior da dita Igreja e mais
arrematou outra obra pela Câmara da vila de Almada e por ordem do Corregedor da
Comarca da dita vila para se fazer na Fonte da Pipa da banda de Além, e que
por este contrato se constituíam sócios em partes iguais nas ditas obras,
fazendo trabalho nos seus ofícios, e outras condições nele descriminadas.
Esta Escritura de Sociedade encontra-se lançada
nas Notas do Tabelião José Soares Ribeiro em 28 de Agosto de 1757, a pedido de
António Antunes, provedor das Causas, e morador aos Cardais de S. José, que
apresentou a escritura original para assim poder tirar os devidos treslados,
visto que o Livro com a nota original se tinha consumido no incêndio do Grande
Terramoto de 1 de Novembro de 1755, por estar no Escritório do Tabelião no
Largo da Igreja de São Nicolau.
(DGARQ-ADL, Notariais
de Lisboa, Of.º 9-B (antigo 12-B), Cx. 3, L. 2, ff. 77v-78v)
Foi este Luís da Silva, mestre pedreiro, que
conduziu a obra da Fonte da Pipa, como seu empreiteiro, entre 1726 e 1736, e é
aliás assim que é nomeado como «empreiteiro
da obra da Fonte da Pipa e do seu caminho» numa Carta de D. João V de 13 de Julho de 1729, ao Juiz de fora de
Almada, vereadores e Procurador da Câmara em que autorizava o levantamento de
300 000 réis dos direitos que lhe pagavam pelos bens de raiz e pelas sisas,
para as obras da Ermida de S. Sebastião, também na vila de Almada, e em que
aconselha que se arrematasse a obra ao dito Luís Silva, o qual depois em 15 de
Julho de 1729, foi também testemunha da vistoria do estado da dita Ermida,
conforme se lê no respectivo Auto:
«E Considerando que por se hauer de conhecer o
Reparo de que a dita Irmida necessitava era conveniente e precizo ser vista
pellos Mestres / fl. 2v. / Pedreyros e Carpenteyros que houvecem na dita villa
pera declararem a necessidade e qualidade da obra pera asim se poder Rematar
com clareza e se proceder nesta execussão da Provisão com Verdade, pondo-ce
novamente em pregão e Rematando-se a obra se achace ser necessaria pera
Conservassão da dita Irmida.
Com effeyto mandarão chamar os ditos Mestres que
sendo prezentes Manoel Ferreira, João Baptista, Miguel Pinto, Jozeph Rodriguez
Milhano, Mestres pedreyros desta dita Villa, e outrosim Luis da Silua Mestre pedreyro da obra da Fonte da Pipa, e Manoel
Antunes, Medidor do Senado da Camara da Cidade de Lixboa E outrosim sendo
testemunhas prezentes Francisco Lopes, Antonio Rodriguez, Antonio Francisco e
outro Antonio Francisco do Pragal, Mestres Carpinteyros»
(Arquivo Histórico Municipal de Almada, Livro da
Obra da Ermida de São Sebastião, 1729, ff. 2-3v – cit. Maria José Lopes, et al,
in Entre Memória e Criação. A
Reabilitação da Ermida de São Sebastião em Almada, 2010, pp. 32, 68)
A construção da Fonte monumental e dos acessos à
mesma, vinha melhorar significativamente o seu aproveitamento por parte dos
habitantes da vila, e potenciar o desenvolvimento das zonas ribeirinhas
envolventes, sendo a partir desta altura que se estabelecem quer na Arialva,
quer no Olho de Boi, novas edificações e armazéns aproveitando certamente alguns
dos antigos fortes e áreas circundantes.
Continua em:
Da Fonte da Pipa à Arialva, passando pelo Olho de Boi (2/3)
RUI M. MENDES
Caparica, 25 de Junho de 2012
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